A Trindade do Funk Afrofuturista

Os anos 60 e 70 proporcionaram ao mundo e a música negra um salto no tempo para o futuro, vivendo e atuando contemporaneamente; George Clinton e Parliament Funkadelic, Zapp e Earth, Wind & Fire, inspiraram a juventude negra de sua época que colocaria o Rap como música mais ouvida e popular do mundo em 2018.

Os baixos em primeiro plano, as baterias eletrônicas, as danças, performances, figurino, os sintetizadores, o Talk Box, a simbologia utilizada nas capas dos LP’s, os discursos políticos e culturais, as interpretações das canções consolidaram um modo de fazer música que transpôs o atavismo da música tradicional negra e projetou esses artistas para o futuro, trazendo para si e para toda a cultura negra o uso das tecnologias e a reivindicação do futuro em suas obras artísticas.

Lá vai 3 exemplos e visão afrofuturista destas bandas

Mothership Connection

 Se liga no que disse o próprio George Clinton sobre o Álbum

 “Colocamos pessoas negras em situações que ninguém jamais pensou que elas estariam, como a Casa Branca. Imaginei que outro lugar que você não pensaria que as pessoas negras estariam era o espaço sideral. Eu era um grande fã de Star Trek , fizemos uma coisa com um cafetão sentado em uma nave espacial em forma de Cadillac, e fizemos todos esses grooves do tipo James Brown, mas com conversas de rua e gírias do gueto”

 Confiram a capa dessa obra

O Egito Futurista de Earth, Wind & Fire

Em todos os seus trabalhos a banda sempre evocou elementos misticos e mitológicos para as suas obras, e o Egito sempre esteve presente, no álbum All N All, no qual resenhei neste post AQUI, a banda apresenta um Egito futurista, que ainda contempla o poder e feito dos milenares Faraós, mas está em conexão com o futuro, seja desbravando outros mundos ou em sua arquitetura arrojada.

Confiram a capa e contra capa desse disco

ZAPP (bem, Zapp é Zapp)

Bebendo da fonte inesgotável de George Clinton e seu P.Funk, Os irmãos Troutman deram sequencia a este legado se caracterizando-se por seus álbuns nomeados em sequencias numéricas, sua jovialidade e claro o uso do Talk box, no qual a meninada de hoje refaz esse caminho com o Auto Tune. Quem não lembra da performance de Roger em Computer Love ou na mais recente California Love com Dr. Dree e Tupac?

Deixo aqui um vídeo de uma performance do Zapp

Essas três bandas revolucionaram seu tempo com o que tinha de mais tecnológico e avançado para sua época para produção musical e estética dos espetáculos, projetando o futuro a partir de suas experiências como negros e negras. Tem algo mais afrofuturista do que isto?

OPINIÃO – A literatura Negra para além da Poesia

Quem conhece meus trabalhos sabe que estive ligado aos saraus e movimentos de literatura periférica entre pelo menos 2008 a 2017, participei de cerca de 11 antologias, com 20 textos (poesias). Algumas dessas antologias com diversos escritorxs negrxs e outras especificas de literatura negra.

Porém, o que me inquietou nos últimos anos foi perceber que em meio a tanta produção literária, pensando em literatura negra, os escritores e escritoras negras focam sua produção apenas na poesia e em alguns casos em contos.

Onde estão os escritores negros que produzem Novela? Horror? Fantasia? Ficção Cientifica? Há espaço para esses gêneros na literatura negra nacional? Os leitores que Formamos nos saraus e slams são leitores e consumidores de outros gêneros literários para além da poesia, conto, da narrativa discursiva e performática, ou livros acadêmicos?

Em minha mera opinião trouxemos para nosso meio artístico o extra-realismo da literatura brasileira, impossibilitando que escritores e escritoras foquem suas carreiras e estudos em escrever outros gêneros literários, claro, pontuo aqui outros empecilhos e percalços que sem dúvida apoia essa minha opinião, como;

– O imediatismo em publicar (publicar livros é relativamente novo para nós, sendo assim a poesia acaba sendo um meio mais rápido para produzir e publicar)

– Falta de interesse das editoras (Temos poucas editoras negras e quase nenhuma focada na publicação de outros gêneros além de livros acadêmicos, biográficos e poesia/conto, ficando difícil, ou digamos “constrangedor” para o escritor e escritora enviar seus originais de outra linha literária, sobrando muitas vezes outras editoras que não valorizam as experiências e vivências negras, focando apenas no nicho e em seus lucros, exibindo um/uma escritora negra em seu catalogo)

– O escapismo (infelizmente ainda é possível ouvir e ler comentários acusando escritores negrxs que fogem, vamos dizer assim, da “denuncia direta”, de escapistas. “A realidade é tão dura e vocês querem escrever sobre monstros? E esses monstros nem são “Empoderados”, como assim? Nossa gente morrendo aqui e vocês falando sobre o espaço, tecnologias?” É… isso acontece por aqui e também sem dúvida deve desmotivar alguns escritores e escritoras).

Mas existem no Brasil escritores(as) negros(as) que produzem literatura negra para além da poesia?

Sim eles e elas existem!!!

Destaco alguns e algumas; do Rio de Janeiro Hedjan C.S, autor do livro de horror “Gótico Suburbano”, Sabine Mendes, autora do livro de Ficção Cientifica “Incompletos”, Lu Ain Zala, autora da “Duologia Brasil 2408” livro afrofuturista, Henrique André com a fantasia no livro “Alagbará, Fabio Kabral com seus 2 livros afrofuturistas, e eu, com “Os Planos Secretos do Regime” uma distopia afrofuturista.  E tem mais!!!

Este texto, para além de introduzir uma conversa que irá se desenvolver em outras postagens é também um estimulo para que escritoras e escritores negros possam começar a produzir livros em outros gêneros para assim expandirmos nossas vivências, ancestralidades e perspectivas do presente e para o futuro.

Até a Próxima