Por dentro da “Aurora”

Lançamos no inicio desta semana a EP “Aurora” minha primeira obra musical neste formato, isto é, como referência aos LP (long play) e EP (extended play), porém aqui no Brasil o formato de “EP” ficou como sendo um álbum promocional, uma experiência mais conceitual e curta de um projeto maior.

Produzi este trabalho junto com Dj neew, ele conta ainda com a participação do músico mineiro Eazy CDA, e um vocal do baterista Daniel Lino. Eu e Dj neew, tocamos os outros instrumentos, além das pesquisas e colagens, sequenciamento das baterias, samplers, mixagem e masterização.

Não quero e não vou fazer um track a track, porque quero que cada ouvinte absorva e tenha sua visão e sensação mediante a musicalidade, as letras e a estética da EP.  O que posso adiantar antes de vocês navegarem nessa Aurora é que ela traz uma viagem aos estilos de rap com nuances de Jazz, Soul, Funk e Rock, apresenta também por meio das letras e performance vocal uma leitura politica, filosófica e futurista dos tempos atuais.

Bem vindo ao raiar deste dia, a esta nova Aurora, mais uma oportunidade de sermos nós em conjunto com os outros!!!

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Ficha Técnica

1.  Tratado Sobre Nós (Teclado: Eazy CDA, Percussão: Mano Réu)

2. Aurora (Pré Produção: Daniel Lino, Vocal: Daniel Lino, Bateria/Guitarra/Baixo/Sinths: Mano Réu)

3. Ainda em 2k16 (Instrumental: Dj Neew, Colagens: Mano Réu)

4. Onda-me (Instrumental: Dj Neew, Colagens: Mano Réu)

Produzido por Dj Neew e Mano Réu, entre Novembro 2019 à Janeiro de 2020, Gravado, mixado e masterizado na Timbres Produções

A capa da EP foi feita a partir desta foto que retrata meu primeiro dia no prézinho, lugar onde o conhecimento viu sua Aurora em mim.

A Trindade do Funk Afrofuturista

Os anos 60 e 70 proporcionaram ao mundo e a música negra um salto no tempo para o futuro, vivendo e atuando contemporaneamente; George Clinton e Parliament Funkadelic, Zapp e Earth, Wind & Fire, inspiraram a juventude negra de sua época que colocaria o Rap como música mais ouvida e popular do mundo em 2018.

Os baixos em primeiro plano, as baterias eletrônicas, as danças, performances, figurino, os sintetizadores, o Talk Box, a simbologia utilizada nas capas dos LP’s, os discursos políticos e culturais, as interpretações das canções consolidaram um modo de fazer música que transpôs o atavismo da música tradicional negra e projetou esses artistas para o futuro, trazendo para si e para toda a cultura negra o uso das tecnologias e a reivindicação do futuro em suas obras artísticas.

Lá vai 3 exemplos e visão afrofuturista destas bandas

Mothership Connection

 Se liga no que disse o próprio George Clinton sobre o Álbum

 “Colocamos pessoas negras em situações que ninguém jamais pensou que elas estariam, como a Casa Branca. Imaginei que outro lugar que você não pensaria que as pessoas negras estariam era o espaço sideral. Eu era um grande fã de Star Trek , fizemos uma coisa com um cafetão sentado em uma nave espacial em forma de Cadillac, e fizemos todos esses grooves do tipo James Brown, mas com conversas de rua e gírias do gueto”

 Confiram a capa dessa obra

O Egito Futurista de Earth, Wind & Fire

Em todos os seus trabalhos a banda sempre evocou elementos misticos e mitológicos para as suas obras, e o Egito sempre esteve presente, no álbum All N All, no qual resenhei neste post AQUI, a banda apresenta um Egito futurista, que ainda contempla o poder e feito dos milenares Faraós, mas está em conexão com o futuro, seja desbravando outros mundos ou em sua arquitetura arrojada.

Confiram a capa e contra capa desse disco

ZAPP (bem, Zapp é Zapp)

Bebendo da fonte inesgotável de George Clinton e seu P.Funk, Os irmãos Troutman deram sequencia a este legado se caracterizando-se por seus álbuns nomeados em sequencias numéricas, sua jovialidade e claro o uso do Talk box, no qual a meninada de hoje refaz esse caminho com o Auto Tune. Quem não lembra da performance de Roger em Computer Love ou na mais recente California Love com Dr. Dree e Tupac?

Deixo aqui um vídeo de uma performance do Zapp

Essas três bandas revolucionaram seu tempo com o que tinha de mais tecnológico e avançado para sua época para produção musical e estética dos espetáculos, projetando o futuro a partir de suas experiências como negros e negras. Tem algo mais afrofuturista do que isto?

Dica do Réu – Earth, Wind & fire: o afrofunkfuturista inspirado no Brasil e no Egito

Com um som muito harmônico, pesado e cheio de Hits, O Earth Wind & Fire, também se destaca pela estética visual dos seus álbuns, que hoje popularmente chamamos de afrofuturismo.

O álbum de hoje na nossa resenha e café é o “All in All“, ou em tradução livre todo no todo, ou tudo in tudo.

Lançado em novembro de 1977, o álbum merecidamente vendeu mais de 3 milhões de cópia e ganhou uma versão remasterizada em 2002.

O melhor, é que todo o projeto do álbum, foi pensado por Maurice White após uma viagem q fez a Argentina e ao Brasil.

Musicas do álbum foram usadas em varios samplers dos nossos grupos prediletos, entre eles, Grandmaster Frash e o Furious Five, 2Pac e também o Fugges.

Os destaques do disco  ficam por conta do hit “Fantasy”, acompanhado das músicas que homenageiam o brasil, chamadas de “Brazilian Rhymes”.

São elas a Beijo, que você já ouviu por ai, cheia da nossa ginga e groove,  com um baixo que só falta falar e uma abertura de voz delicadamente bem feita.

No final da track “Runim”, começa um samba de avenida, estilo escola de samba, o percussionista brasileiro Paulinho da costa deixa sua marca no disco, alias esse não é o primeiro álbum que resenho e ele está.

Na segunda “brazilian rhymes” eles interpretam a música ponta da areia de Milton nascimento.

Musicalmente o disco traz talvez as guitarras mais bem feitas do funk, antes dos clássicos produzidos por Michael Jackson e ascensão do Prince. Os metais quase onipresentes em todo o álbum, mostram a criatividade de Maurice na criação dos arranjos e na habilidades dos músicos na execução. Ah… Sintetizadores Moog são fáceis de serem ouvidos neste trabalho.

Termino falando da capa que é fenomenal, traz o Egito, que marca toda a trajetória discográfica da banda. Porém, nesse disco com tons de modernidade, têm naves partindo das pirâmides, uma memphis moderna, high tech contrastando com construções antigas.

Recomendo que ouça esse Álbum com um bom fone ou sistema de som pra não perder nada, porque melhor q ele, só mesmo o show ao vivo da banda, que ao final era engolida pela pirâmide egípcia que descia no palco (INCRÍVEL)!

Dica do Réu – Street Songs o álbum Universal de Rick James

Você talvez não esteja muito habituado a ouvir Rick James, ou talvez sinceramente nem o conheça, mas se você é uma ou um daqueles fãs e ouvintes de música negra, produzida pós anos 80 você tem Rick James, e em especial, o álbum “Street Song’s” na sua memória afetiva e musical.

Porque Réu?

Vou te explicar… Esse trampo do Rick James, lançado em Abril de 1981 e que ganhou o Disco de platina apenas 3 meses depois do seu lançamento emplacou mais de 4 Hits. Só pra você ter noção a música “Super Freak” foi tema dos filmes “Pequena Miss Sunshine” e instrumental de uma das cenas do “Batman Begins”. Pouco? Então ai vai… Artistas como DJ Jazzy Jeff  e The Fresh Prince, Common, Jay Z, Mc Hammer, Busta Rhymes, Public Enemy e o mais novo da cena Kendrick Lamar já usaram samplers de canções desse álbum. Se você já jogou Dj Hero também tem Rick James lá.

Ah quer mais? Então vamos com os nossos ídolos da infância e adolescência Claudinho & Buchecha com o som “Xereta”.

Não te falei!? Esse álbum é fenomenal, merecia um textão daqueles, mas vou na síntese aqui pra despertar sua curiosidade.

Considero Street Songs um dos trabalhos musicais mais importantes da primeira metade da década de 80, foi produzido e arranjado pelo próprio Rick James, lançado pela monstruosa Montown, traz uma mistura em todo o disco de arranjos de Baixo (no qual ele aparece na capa do disco e toca em varias músicas), Metais, Guitarras e bateria já com timbres eletrônicos, além do vocal sem defeito e cheio de malícia de Rick. Esse disco foi tão importante que colocou Rick James como o primeiro Negro indicado na categoria “The Best Male Rock Performance” (Melhor performance masculina de rock) no Grammy de 1982. A revista Rolling Stones coloca a música “Super Freak” entre as 500 melhores de todos os tempo.

O funk de Rick James levou o triplo de platina com Street Songs

O álbum tem 4 super canções “Give it To Me Baby”, a minha preferida “Ghetto Life”,  o eterno Sucesso “Super Freak” e a baladinha romântica “Fire and Desire” com o lindo vocal de Teena Marie (em outra resenha falamos dela).

A estética do álbum fala muito da época e de um cenário que nos representa até hoje; a cidade, a rua, o amor, a noite, o abuso policial que ganhou uma faixa pra discutir a questão a pesada e conclamativa “Mr Policerman”:

“hey mr. policeman

hey sr. Policial

i saw you shoot my good friend down

eu vi você atirar o meu bom amigo para baixo

he was just havin’ fun

ele estava apenas me divertindo”

Bom, prometo fazer um vídeo pra falar mais desses álbum, mostrar os samplers que usaram desse trabalho, detalhes de arranjos vocais, instrumentais e bastidores! 

Montei uma playlist massa com algumas músicas do Disco e também de outros músicos que se inspiraram e samplearam canções desse trabalho.

Termino dizendo o óbvio, Rick James abriu caminho na Montown para o trabalho de Michael Jackson seja na sonoridade, no marketing, na pegada pop, mas funk, raiz, pesada, na estética, no seu cabelo louco, e também nos seus maravilhosos e irreverentes vídeo Clipes.

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