Já faz algum tempo que eu planejo escrever um material tendo com fonte uma das séries que mais aprecio, Star Wars, linkando suas tramas e subtramas com o cenário político brasileiro.
Os trabalhos e demandas me impediram de começar este trabalho, porém com alguns intervalos entre as elas, vou pelo menos iniciar esse debate em formato de pílulas.
Esta primeira pílula traz algo muito recorrente em nossa cultura política e está em todos os arcos, e diria até que é o único arco de Star Wars, o poder das oligarquias.
Em Star Wars, seja no período da República ou do império, e principalmente na Nova República, as famílias sempre tiveram grande poder político, religioso e influência no senado, aonde a pluralidade de vozes alienígenas deveria ter mais relevância. Estamos falando obviamente da família Skywalker, na Nova República eles assumem um papel central, em especial a princesa Léia. A heroína da resistência não chega a ser uma chanceler ou senadora, mas toma o cargo de general com poder tão semelhante aos outros cargos da nova república, indicando uma vigilância militar sobre as ações da república (soa familiar, não acham?). Cabe então aos Skywalker, filhos da senadora Amidala e de Anakin Skywalker, o cuidado militar da nova república por um lado, e por outro o destino religioso, já que Luke cria uma nova escola a fim de manter a ordem Jedi viva, obviamente até o seu autoexílio.
A política brasileira não se faz diferente, temos oligarquias em todas as regiões do país. Primeiramente é importante definir o que é “oligarquia”; em uma definição livre, oligarquias, são poderes compartilhado entre familiares, ou entre grupos que controlam econômica, política e territorialmente a grande massa, mesmo sem terem sido eleitos para tal, um sistema muito parecido inclusive com a monarquia, que também se faz presente em Star Wars, já que muitos dos senadores são na realidade príncipes nos seus planetas de origem, como a própria Léia.
O Brasil sempre foi controlado por famílias, desde as capitanias hereditárias, o panteão da supremacia política da república é grande, temos a família Sarney, os Calheiros, a família Collor, a família Ratinho, que faz uma dobradinha entre poder político e midiático, a família dos Gomes no Ceará, a família Milton leite em São Paulo, e por aí vai. Destaco ainda a família Neves, no qual o seu membro mais novo, Aécio Neves, tentou usurpar o poder, incentivando um golpe de estado, após perder uma eleição, o que será tema dessa coluna em algum momento, já que seu ato desestabilizou toda a república, sim, estou falando do Brasil.
Essas famílias oligárquicas plantam em nossa cultura a ideia de que seus herdeiros são abençoados e capacitados para continuar “guiando” o povo para o progresso. Pensando nisso nada mais emblemático que a família Bolsonaro, toda sua prole teve ascensão política por nascerem filhos do então ex-militar. Já nasceram políticos profissionais sem nenhuma vivência de vida no campo social para atender a dinâmica e diversidade da população, se restringindo a pautas setorizadas e em sua maioria discriminatórias. Esses herdeiros recebem a benção dos seus mais velhos que gritam ao povo “sigam, sigam”, exercendo seu direito quase monárquico de continuar mandando no povo e indicando seus sucessores.
Uma república, tanto faz que seja em Star Wars ou no mundo real, não sobrevive equilibradamente, sendo controlada por famílias geração após geração, a frágil tranquilidade desse modelo “democrático”, e digo democrático já que os indicados pelo rei são eleitos, vai se ruindo, encurtando o reinado desses grupos e fomentando o surgimento de déspotas que a fim de romper com as oligarquias e grupos de interesse implementam ditaduras.
Por fim, o modelo oligárquico, se manifesta no campo religioso também, estendendo-se das religiões de matriz africana aos cultos radicais neopentecostais, e em Star Wars temos a linhagem do domínio da força, a força é muito forte na minha família Skywalker, afinal assim como na oligarquia política muitas pessoas se sentem eleitos, sendo o poder divino também repassado aos seus descendentes. Infelizmente essas concepções cruzam todos os espectros políticos, criando um estado quase teocrático, mesclando a figura de um Salvador com a manutenção do estado de direito. É uma química totalmente instável que tende a gerar rebeliões, movimentos separatistas, crises éticas que não coadunam com os princípios de nenhuma República, seja em Star Wars ou no Brasil, ou seja, se derruba a consagração da separação do estado e religião.
Agradeço a leitura até aqui, seguirei produzindo essas pílulas como exercício para que um dia, quem saiba, nós não façamos o material inteiro e completo, traçando paralelos da política nacional e seus personagens com as tramas de Star Wars. Volto em breve com novas reflexões.